Pular para o conteúdo principal

Ophir Loyola faz cirurgia cerebral em paciente acordado e remove tumor que causa epilepsia

Cirurgia próxima à área que controla a linguagem exigiu que paciente respondesse a comandos durante o procedimento para que cirurgião não comprometesse funções

Mais uma cirurgia com o paciente acordado e com testes neurofuncionais do cérebro foi realizada no hospital público Ophir Loyola. A microcirurgia para tumor intracraniano ocorreu na última segunda-feira (15) para ressecar uma lesão tumoral no lobo frontal esquerdo do entregador de delivery Lucas Dutra, de 30 anos. O paciente sofria com a epilepsia há dez anos em decorrência da lesão tumoral. A epilepsia é uma doença cerebral crônica caracterizada por crises epilépticas ocasionadas por descargas elétricas anormais e excessivas.

Em cerca de 30% dos pacientes não há melhora das crises com o tratamento medicamentoso, sendo os tumores uma das causas desta refratariedade. Nesses casos, a cirurgia é indicada para casos de epilepsia refratária, ou seja, que não melhora com os remédios.

Lucas relata que um dia estava em uma rodovia com o filho e perdeu a consciência, quando acordou estava num hospital. A partir daí, as crises ficaram cada vez mais frequentes e intensas,  os medicamentos não faziam efeito e ele foi encaminhado ao HOL, onde foi diagnosticado o tumor cerebral.

“Passei todos esses anos sofrendo com as crises, às vezes estava realizando entregas e caía no meio do caminho, mas as pessoas eram generosas comigo, não deixavam roubar a minha mercadoria. Fui submetido à cirurgia e espero ter uma boa recuperação, uma vida sem transtorno e com mais qualidade. Tenho esperança de ter uma vida nova”, disse.

Especialista em neurocirurgia para o tratamento de epilepsia, o neurocirurgião Dr. Francinaldo Gomes explica que “a investigação pré-operatória do paciente mostrou que as crises eram provenientes da região onde a lesão estava localizada, sendo esta região muito próxima da área que controla a linguagem falada, chamada de Área de Broca, considerada área nobre do cérebro pelos neurocientistas”.

 

LINGUAGEM

Segundo o neurocirurgião, o paciente, por ser destro, deveria apresentar a área da linguagem no lado esquerdo do cérebro. Entretanto, após realizar a ressonância magnética funcional, foi constatado que a função da linguagem havia migrado para o lado direito. Tal achado, embora não fosse garantia de que tal função não seria afetada, deixou a equipe e o paciente mais tranquilos para realizarem o procedimento.

“A principal dificuldade é que a lesão estava próxima da área responsável em produzir a linguagem e controlar os neurônios responsáveis pelo movimento facial. A nossa maior preocupação era retirar a lesão, mas também preservar essa importante função de comunicação do ser humano”, detalha Francinaldo Gomes.

Para localizar precisamente a lesão, foi usada a neuronavegação intraoperatória. E para ter certeza de que não haveria danos à linguagem do paciente, o mesmo foi acordado durante a cirurgia e foram realizados testes de comunicação, memória, orientação, cálculo, reconhecimento de figuras e cores e vocalização durante todo procedimento. Com isso, a equipe pôde se certificar de que tais funções estavam preservadas e garantiu a integridade das estruturas neurais nobres, com o acompanhamento da atividade cerebral, em tempo real.

“A neuronavegação é uma técnica na qual as imagens do cérebro são fundidas com as imagens dos exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética. Trata-se de aparelho de alta tecnologia que funciona como um sistema de GPS.

"O neuronavegador detecta os limites da lesão que está sendo abordada ao mesmo tempo que a imagem do cérebro do paciente em 3D é visualizada em um monitor. Esse tipo de intervenção permite o não comprometimento das estruturas importantes e reduz a chance de sequelas”, explica o neurocirurgião.

 

SUPORTE

O chefe do Serviço de Neurocirurgia, Reginaldo Brito, destaca que existem poucos centros no Brasil que realizam cirurgias para tratamento de epilepsias refratárias, particularmente as que são feitas com o paciente acordado. Segundo ele, na região Norte, o Hospital Ophir Loyola é o único do SUS que realiza tais procedimentos desde 2018, que “exigem equipe multidisciplinar devidamente treinada e equipamentos de última geração”. Desde 2013, 58 procedimentos como esse foram realizados no Pará, desse total 11 foram realizados no Ophir Loyola.

Para a realização da cirurgia de Lucas, o hospital contou com uma equipe formada por neurocirurgiões, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, anestesistas, enfermeiros e técnicos, bem como um time de apoio.

“Além disso, o paciente contou com a parceria de uma clínica privada para a realização do exame de ressonância magnética funcional (não realizado no hospital) e também com o empréstimo do equipamento de neuronavegação e outros equipamentos não disponíveis na instituição”, informou o chefe da neurocirurgia.

Inicialmente, o paciente recebeu anestesia geral e foram conectados eletrodos em todo o corpo, somente então foi realizado o acesso que permitiu abordar o cérebro com auxílio do neuronavegador. Posteriormente, o nível de sedação foi reduzido para que o paciente conseguisse acordar e responder aos comandos da equipe multidisciplinar composta pela psicóloga Patrícia Melo, terapeuta Ocupacional Elane Sarmento e  fonoaudióloga Flávia Monteiro, que ficaram responsáveis pela estimulação cognitiva durante o processo cirúrgico.

PREPARAÇÃO

Duas semanas antes, o paciente recebeu orientação e treinamento sobre como seria a cirurgia, quais os comandos seriam usados e quais tarefas teria que realizar ao ser acordado. Tudo para que ele se sentisse confortável e tranquilo durante a cirurgia. Enquanto o tumor estava sendo retirado, Lucas conversava, cantava, respondia a perguntas, reconhecia figuras e cores, bem como atendia a comandos motores, mostrando que tais funções estavam preservadas.

“A equipe realizou a estimulação cognitiva da fala, da motricidade oral e da função motora durante o manuseio cirúrgico. O neurocirurgião sinalizava que iria manusear determinada área e a equipe fazia a estimulação. Quando o paciente respondia aos comandos, o neurocirurgião seguia com o procedimento. Caso o paciente não respondesse, esse era um sinal que determinada área não poderia ser manipulada cirurgicamente”, explica a fonoaudióloga.

Após a cirurgia que durou 5 horas, o paciente foi levado à Unidade de Terapia Intensiva, consciente, orientado e sem déficits de linguagem e motores. Uma vez que Lucas continue respondendo bem, a previsão é de que receba alta em cinco dias. Em relação à epilepsia, em cerca de 50% dos pacientes que são operados, consegue-se que os mesmos fiquem sem crises e sem necessitarem de medicamentos. Caso as crises cessem após dois anos do procedimento, os remédios serão retirados.

Lucas será acompanhado no hospital, tanto com a equipe de cirurgia de epilepsia quanto com a equipe de cirurgia para tumor cerebral. Ele aguardará o resultado da biópsia para dar seguimento ao tratamento conforme o tipo de tumor diagnosticado.

Com informações e fotos da Agência Pará.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Aberto Processo Seletivo para o Hospital Adventista em Barcarena.

O Hospital Adventista de Belém abre processo seletivo para sua nova unidade - CMAB (Centro Médico Adventista de Barcarena). Interessados devem enviar seu currículo com o título da vaga pretendida para um destes dois e-mails: recrutamento.cmab@hab.org.br  ou  recrutamento.cemab@hab.org.br Mas atenção! Este Processo seletivo é s omente para candidatos que comprovadamente residam em BARCARENA, VILA DOS CABANOS, ABAETETUBA e proximidades.     Veja as vagas disponíveis:   Nível médio   •              Recepção •              Serviços gerais •              Copeiro (a) •              Agentes de portaria •              Atendente de Farmácia •              Administrativo •              Ajudante de cozinha •              Almoxarife e auxiliar •              Cozinheiro(a) •              Camareiro(a) •              Hidráulico   Nível técnico   •              Técnico (a) de Enfermagem •              Mecânico •              Eletricista •             

Belém: TRE cassa candidatura de Zenaldo por uso de máquina pública na campanha

O Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) decidiu cassar a candidatura de  Zenaldo Coutinho e seu vice, Orlando Reis Pantoja, ambos do PSDB, ao segundo turno na disputa eleitoral para prefeito de  Belém .  A defesa de Zenaldo disse que irá recorrer da decisão.  Zenaldo Coutinho foi o candidato mais votado no primeiro turno das eleições  municipais de Belém. Ele teve 241.166 votos, que correspondem a 31,02% do total das urnas de Belém. De acordo com a  pesquisa Ibope divulgada no dia 15 de outubro, ele teria entre 39% e 47% dos votos no segundo turno . A decisão, que deve ser publicada na tarde desta quinta-feira (20), entendeu que os candidatos se beneficiaram de conduta ilícita, configurando abuso de autoridade e uso do dinheiro público para alavancar a candidatura. Propaganda proibida Segundo o juiz Antonio Cláudio Von Lohrmann Cruz, os candidatos do PSDB usaram o site oficial da Prefeitura e um perfil oficial em rede social do município para fazer propaganda eleitoral

Nova escola: saiba quem foi a professora Maria Cecília

ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL  “PROFª. MARIA CECÍLIA”     Mas, quem foi a Professora “Maria Cecília” que empresta seu nome à nova e moderna escola que será entregue pela Secretaria Municipal de Educação de Barcarena no Governo Vilaça? Maria Cecília Vasconcelos Ribeiro, nascida na cidade de Barcarena na localidade de Cabeceira Grande em 22/11/1929, torna-se “Professora Maria Cecília” em meados de 1950, nomeada então pelo Governador Magalhães Barata, lecionando pela primeira vez em uma escolinha na comunidade do Arapiranga. Ficando lá apenas por um ano, grávida do primeiro filho, foi transferida para uma escolinha na comunidade do Aicaraú.  Foto Escola: ASCOM/PMB - Foto Profª. Cecília: Arquivo Familiar -  Arte: Fabrício Reis. “Lembro como se fosse hoje, em 1950, eu e minha irmã Maria Cecília fomos nomeadas professoras em Barcarena pelo Governador Magalhães Barata a época; quando ele perdeu a outra eleição fomos exoneradas; quando ele ganhou novamente fom