O Pará concentra 80% dos casos de doença de chagas no Brasil. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), 35 novos casos da enfermidade foram confirmados em 2012 e uma pessoa morreu.

Contaminação de açaí pode estar
relacionada a incidência de doenças de chagas no Pará.
De acordo com a Sespa, a
principal forma de contaminação é oral, ou seja, acontece quando as pessoas consomem
alimentos contaminados por insetos, que por usa vez estão infectados com o
parasita trypanosoma cruzi. Os sintomas da doença incluem dores de cabeça, mal
estar, pernas e braços inchados e coração acelerado.
"Apesar de estar sendo
relacionado ao consumo de açaí, reforçamos que o fruto não é o culpado pelos
casos. Todo processamento que não conta com a higiene adequada tem o risco de
contaminação. Já tivermos surtos com camarão salgado, por exemplo", conta
Elenild Góes, coordenadora de contaminação pela doença de chagas no Pará.
"Branqueamento" é
solução viável para higienizar o açaí
Entre as principais recomendações
está o uso da técnica conhecida como branqueamento. Heron Amaral vende açai em
Belém há 17 anos e descreve o passo-a-passo de como beneficiar o fruto.
"Primeiro é preciso passar o açai pela
peneira para retirar a sujeita que até pode ser vista a olho nu. Depois ele
passa por três lavagens e vai para o banqueamento, que é mergulhar o açaí em
uma solução com hipoclorito de sódio em uma temperatura de 80º C, por cerca de
dez segundos, aí enxaguamos várias vezes para retirar o cloro, resfriamos e só
então processamos o açaí", explica Heron.
Ele conta que outros cuidados como lavar
constantemente as mãos e usar álcool em gel, o manipulador deve estar também
com barba sempre feita e unhas cortadas, além de material de higiene com
avental e toca.
"O açaí virou uma questão de saúde
pública. Fiz as mudanças aqui de forma lenta porque é caro. Mas me sinto
recompensado por saber que o trabalho está sendo feito de forma correta e
estamos levando para a população alimento de qualidade. Fico triste de ter
gente receosa de comer açaí por conta disso", afirma Heron Amaral.
A pesquisadora Ana Maria Doaralto defende que
o branqueamento deve ser realizado mesmo no açaí que será congelado. Um estudo
divulgado recentemente pela professora da Universidade de Campinas (Unicampi)
indica que o parasita que causa a doença pode sobreviver mesmo há baixas
temperaturas, o que faz com que o congelamento não elimine o problema.
"Experimentamos em laboratório com
camundongos e a resistência do parasita é grande em temperatura ambiente, mas
também acontece a até 4º C. Por isso, a melhor medida é a adequação da cadeia
de produção e processamento da fruta, com uso do branqueamento", orienta.
A Vigilância Sanitária mantém cursos de
orientação para batedores de açaí e pessoas que trabalham com manipulação dos
alimentos. Mas o órgão diz que na maioria dos casos, quem participa do curso
são pessoas indicadas pelos agentes durantes as fiscalizações. "Eles pouco
comparecem espontaneamente", aponta Teresinha Rossetti, da divisão de
alimentos da Vigilância Sanitária de Belém.

"Seguindo as indicações, especialmente o
uso do branqueamento, que é obrigatório devido a uma lei estadual, é possível
oferecer aos consumidores um alimento saudável e a segurança alimentar",
garante, Mauro Roberto Pereira, representante do Sebrae.
Casos mais recentes de doença de
chagas estão relacionados ao consumo do fruto
De acordo com Elinild, 86
municípios do Pará têm registro da doença e, destes, 26 concentram cerca de 80%
dos doentes de chagas no estado. "Sem dúvida Belém, Ananindeua, Breves, Barcarena,
Abaetetuba e outros municípios da ilha do Marajó concentram os casos",
revela.
Para a representante da Sespa, o período de
safra do açaí que vai de junho a novembro, no qual o valor do fruto fica mais
barato, representa um momento de atenção para os consumidores. "É um risco
somado. Há aumento do número de casos porque o preço está mais em conta e
aumenta o consumo e a produção", afirma Elinild Góes.

Desde então, toda a família parou de consumir
o fruto. “Eles tomaram açaí por três dias e, cada dia, foi de um lugar
diferente, e foram as únicas pessoas que tomaram açaí na minha casa. Agora,
ninguém mais toma açaí. Eu só tomo se for como sorvete e pasteurizado e muitas
pessoas próximas a mim deixaram de tomar porque a gente sabe que só pode evitar
a contaminação com o açaí sendo fervido a 80°C. Como é que eu vou ter certeza?
É trauma demais para eu arriscar”, diz Ariane.
Serviço:
A doença de Chagas é muito comum na região
amazônica. Sua transmissão se dá através de insetos infectados com o parasita
trypanosoma cruzi. A doença afeta principalmente o coração e o sistema
digestivo. Seus sintomas mais comuns são febre alta, dores de cabeça, no corpo,
palpitações e manchas na pele, similares a doenças mais comuns, como a dengue.
Por conta disso, é preciso ter muito cuidado na hora do diagnóstico.
A recomendação médica é de que os pacientes
que desconfiem que possam estar com a doença, procurem imediatamente o
hospital.
"Quanto mais tempo se demora para receber
o tratamento, maior é a chance de ter complicações pela doença. A chance de
óbito é em torno de 5% a 10%", orienta Dilma Souza, médica cardiologista
do Hospital das Clínicas Gaspar Viana,
referência no tratamento da doença no Pará.
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